Das fraldas para o tatame: pequenos atletas estreiam no judô a partir dos 2 anos

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O esporte do “caminho suave”, indicado pela Unesco como o melhor para crianças, ensina equilíbrio, disciplina e cordialidade

O pequeno Romeo, de apenas três anos, participa das aulas de judô com o professor Luiz Roberto Santos Júnior desde antes do desfralde (Foto: José Estevam)

Com qual idade começa a nascer um judoca? A Unesco destacou o esporte como o mais adequado para crianças a partir dos 4 anos. Mas para os alunos do professor curitibano Luiz Roberto dos Santos Júnior, a estreia no tatame pode ocorrer ainda antes dos 3 anos. Nessa fase, os pequenos não aprendem técnicas, mas já se familiarizam com movimentos que favorecem o equilíbrio e com a filosofia do “caminho suave” – significado da palavra judô -, que é baseada no respeito e na cordialidade. “Quem faz judô não briga”, reforça o professor.

Com quase 20 anos de experiência com crianças, ele próprio vestiu o primeiro quimono na primeira infância e a paixão virou profissão. Mais do que formar futuros atletas, a prática precoce do judô estimula o desenvolvimento motor e cognitivo, é uma forma divertida de fazer os pequenos se exercitarem e, além de tudo, estimula a disciplina, o autocontrole, o respeito e a cordialidade.

O pequeno Romeo iniciou na atividade aos dois anos de idade, antes mesmo de passar pelo desfralde, que aconteceu alguns meses depois. A mãe, Thaís Camargo Ribas Leli, conta que o judô contribuiu principalmente no desenvolvimento motor e de equilíbrio do filho. “Ele tinha dificuldade de pular com as duas perninhas, por exemplo, e o judô foi muito importante nesse progresso”, conta Thaís, que também é educadora física e foi mãe no início da pandemia.

Para os mais crescidinhos, o esporte mostra efeitos imediatos. “Meu filho já é por natureza uma criança amorosa, carinhosa. Mas eu percebi que ele está mais focado, mais centrado no que faz. As professoras comentam que ele é o apaziguador da turma, quando há algum conflito.  E também notei que o apetite dele melhorou. Chega em casa pedindo por arroz e feijão”, conta a jornalista Julia Abdul-Hak, mãe de Renato, de 5 anos, que iniciou as aulas há cinco meses.

Olhos nos olhos em cima do tatame

Os dois meninos são alunos das turmas que o professor Luiz Roberto treina no Colégio Santo Anjo, – rede de escolas com 3 mil alunos, do berçário ao terceirão, que tem o maior ensino pré-escolar do Paraná. “Com os pequenos, já a partir dos 2 anos, eu trabalho com brincadeiras para desenvolver a psicomotricidade. Eles vão curtindo e se adaptando. Também começam a entender a importância da disciplina, de saudar o amigo antes de qualquer exercício, de serem respeitosos e cordiais”, diz o professor, que trabalha ajoelhado no tatame para ficar na altura dos olhos dos alunos. “Isso é importante porque mostra que ninguém é superior ao outro”, acrescenta.

A partir dos 4 anos, as turminhas do Santo Anjo  começam a entender as técnicas do judô. “Nessa fase já começamos a mostrar a luta, a pegada no quimono, a movimentação no tatame, as técnicas de perna, braço e quadril”, explica Luiz Roberto.

Algumas pessoas vão desenvolver interesse pelas competições, até porque o Brasil tem vários atletas bem colocados nos rankings internacionais. Os exemplos recentes das campeãs mundiais Mayra Aguiar e Rafaela Silva incentivam os alunos. Mas, para ele, a prática do esporte não precisa estar associada ao desejo de se tornar um competidor.

O melhor esporte para crianças e jovens

Braço das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, em fevereiro deste ano a Unesco destacou o judô como o esporte mais indicado para crianças e jovens de 4 a 21 anos. São várias as razões: ele possibilita o relacionamento saudável com outras pessoas, utilizando o jogo com a luta como um integrador dinâmico e promove uma educação física integral. A prática regular também permite o aprimoramento de todas as possibilidades psicomotoras: localização espacial, perspectiva, ambidestria, lateralidade, jogar, puxar, empurrar, rastejar, pular, rolar, cair, entre muitas outras.

Segundo o Comitê Olímpico Internacional, o esporte é completo por também promover valores de amizade, participação, respeito mútuo e esforço para melhorar.

Um pouco sobre o judô e suas regras

A origem do judô remonta a 1532, quando surgiu o estilo Takenouchi-ryu, que por sua vez inspirou o estilo Ju-Jitsu japonês. É uma arte focada tanto no ataque quanto na defesa que apenas em 1882 se tornaria um esporte, por iniciativa do mestre Jigoro Kano. Foi ele quem criou um código moral baseado em coragem, autocontrole, honestidade, amizade, modéstia, cortesia, respeito e honra.

Em 1909, o mestre fez parte do Comitê Olímpico Internacional para propagar o esporte. O judô integrou os Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964, apenas como modalidade de apresentação. A imigração japonesa trouxe a prática para o Brasil nas décadas de 1920 e 1930.

Confira as principais regras:

  • a disputa acontece no tatame;

  • o objetivo é derrubar o adversário no chão por 20 segundos;

  • quanto maior é o tempo de imobilização, mais pontos o atleta ganha;

  • as lutas para homens duram 5 minutos; para mulheres, 4;

  • se não houver um vencedor nesse tempo, são adicionados 3 minutos (Golden Score);

  • qualquer golpe aplicado fora da área de combate é desconsiderado;

  • se um atleta levar três shidos (penalidades), é desclassificado;

  • os shidos podem acontecer por vários motivos: falta de combatividade, ataque falso, postura defensiva por mais de 5 segundos, etc;

  • hansoku-make é uma punição grave, que leva à desclassificação;

  • os competidores devem usar o judogui, kimono na cor azul ou branca.

  • a graduação é por meio de faixas de diferentes cores

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