Estrear um novo espetáculo no palco do Teatro Guaíra, um dos templos sagrados das artes cênicas nacionais, não é pra qualquer um. Mas Fábio Porchat, Priscila Castello Branco, Maria Clara Gueiros e Júlia Rabello – o diretor e o elenco da peça “Agora é que são elas” – levarão a tarefa a cabo na noite desta terça-feira, 26, com ingressos esgotados há mais de um mês na Mostra Lucia Camargo do Festival de Curitiba. A nova obra é uma reunião de dez esquetes de humor, escritas por Porchat ao longo dos anos, com cerca de uma hora de duração. O que, para eles, prova o status que o humor brasileiro, muitas vezes tido como um tipo de arte menor, atingiu.
“Pra falar a verdade, eu nunca entendi muito bem por que o humor era tratado assim”, questionou Júlia Rabello, durante entrevista coletiva da manhã de hoje, no Hotel Mabu. “Profissionalmente, você precisa ter uma capacidade técnica para fazer humor que é coisa de craque.”
Porchat completou: “A gente pode aqui falar de atores incontestáveis como o Osmar Prado. Agora, bota o Osmar Prado pra fazer duas mil pessoas rirem durante uma hora”, desafiou. “E ninguém vai dizer que o Osmar Prado é ruim. Ele é brilhante em um lugar. E tem gente que é brilhante em outro, como as meninas que estão aqui comigo.”
O diretor continuou: “Elas ainda não entendem o quanto a peça está engraçada, porque a única plateia que tiveram até agora fui eu. Elas vão entender hoje à noite, quando mais de duas mil pessoas estiverem rindo delas e com elas.”
Apesar disso, uma peça com um elenco formado exclusivamente por mulheres não estava nos planos desde o início. “A gente não pensou: vamos fazer uma peça só com mulheres, empoderar as mulheres no humor, nada disso. A gente procurou três pessoas engraçadas, e chegou nesse time”, contou Porchat. “E logo na primeira leitura, deu match”, concordou Priscilla Castello Branco.
“Hoje à noite, se acabar a luz, tem peça. Se o teatro desmoronar, tem peça. Só não tem peça se eu não tiver essas três mulheres aqui”, elogiou o diretor.
As esquetes que os curitibanos verão no palco, em primeira mão, tratam de situações do cotidiano, como a relação de uma mãe com sua filha ou um casal que já não consegue mais transar. Os temas políticos, tão explorados por Porchat no projeto Porta dos Fundos, dessa vez ficaram de fora. “Mais uma vez, não foi nada planejado, foi só o caminho que a coisa seguiu.”
Respondendo a uma pergunta dos jornalistas, o comediante, que volta agora a dirigir teatro depois de quase dez anos, disse não acreditar que os chamados “tribunais das redes sociais” atrapalhem muito o trabalho dos humoristas atualmente.
“É claro que às vezes é chato, enche um pouco o saco, porque a gente basicamente perdeu o direito de errar, qualquer bobagem que você fale, acaba estraçalhado”, contemporizou. “Mas uma vez eu perguntei justamente isso pro Chico Anysio, e ele me disse uma coisa que eu não esqueci mais: ‘meu filho, difícil mesmo era na ditadura’. Dificilmente era aprovar piada com o censor.”
“Na vida, você sempre paga um pedágio”, completou Maria Clara Gueiros. “E o pedágio anterior era bem mais caro.”
Coletiva na Sala de Imprensa Zé Celso, no Hotel Mabu. Foto: Annelize Tozetto